quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A (in)disciplina nas crianças


Há um conjunto de princípios que devemos ter em mente no que respeita à disciplina:
1. Faz parte do desenvolvimento normal da criança que esta funcione segundo o princípio do prazer. A criança procura, antes de mais, divertir-se e evitar o esforço.
2. É natural que a criança procure manipular o adulto ou as situações de maneira a satisfazer os seus desejos. É menos normal que o adulto permita ou se deixe cair na cilada.
3. Uma criança tem sempre o poder que lhe damos. Geralmente, a indisciplina é favorecida pela falta de firmeza do adulto.
4. Devemos ter em conta o princípio, segundo o qual, se uma criança repete frequentemente o mesmo comportamento é porque obtém algo com ele. Mesmo que o ganho não possa ser detectado à primeira vista, devemos observar atentamente os resultados desse comportamento.

A importância das regras:
O estabelecimento de regras de comportamento tem por principal objectivo não assegurar o bem-estar dos adultos, mas sim proteger a criança, transmitir-lhe segurança, pontos de referência estáveis para que se possa adaptar ao meio e, para que integre valores.
As regras devem ser estabelecidas de acordo com a idade, o nível de desenvolvimento da criança e as suas necessidades. Devem também respeitar um conjunto de características:
  1. Ser claras – as regras devem ser facilmente compreensíveis pela criança. Quando a criança é pequena devesse pedir para que ela repita a ordem para ficar a saber se ela realmente o ouviu. É essencial que os cuidadores estabeleçam os principais valores que querem transmitir. É fundamental também que haja consenso entre os adultos relativamente a estas regras para que a criança sinta que vive num meio estável – por exemplo, a existência de regras diferentes para com o pai e a mãe, confunde a criança e possibilita-lhe manipular os adultos, de acordo com o que pretende.

  2. Ser concretas – as regras devem expressar explicitamente os comportamentos desejados, sem ambiguidade ou margem para falsas interpretações, por exemplo, é melhor dar ordens através de declarações e não com perguntas. Quando se fazem perguntas de sim ou não, terá de estar disposto a aceitar que o seu filho lhe possa responder não. Não deve dizer: “Podes levantar a mesa?”, mas antes, “Preciso da tua ajuda, enquanto arrumo a loiça, levantas a mesa!” Para se sentir segura, a criança precisa de saber exactamente o que esperam dela. Devemos evitar as proibições e optar por destacar o comportamento que queremos que apresente. As crianças que ouvem demasiados “nãos” a dada altura optam por não os ouvir, por isso é mais eficaz explicar á criança o comportamento desejado. Por exemplo, em vez de “Não corras” utilizar “Anda de devagar”.

  3. Ser realistas – as regras devem ser adaptadas ao nível de desenvolvimento e capacidades das crianças para que sejam capazes de as respeitar.

  4. Ser constantes – as regras não devem variar consoante o humor do adulto. Deve existir constância na aplicação das regras, uma vez que é muito mais eficaz na integração de valores pela criança, do que a severidade da punição.

  5. Ser breves – utilizando o menor número de palavras possíveis.

  6. Apresentar opções sempre que possível – Quando as pessoas têm escolha, ficam com uma sensação de controlo e tendem a responder melhor. É claro que não se deve dar a uma criança a opção de ir ou não há escola, de lavar os dentes, de tomar banho ou de ir para a cama a uma hora razoável. Mas dar-lhes opções dentro do leque de coisas que têm de fazer também serve para respeitar as suas necessidades. Poderá perguntar: “O que preferes fazer primeiro? Escovar os dentes ou tomar banho?” Mesmo estando a dizer à criança que ambas as actividades têm de ser feitas, permitir que seja ela a escolher a ordem concede-lhe alguma influência. Também podemos dar às crianças algum controlo sobre o tempo – “Queres fazer os trabalhos de casa agora, ou depois do jantar?”ou “Ajudas a pôr a mesa agora, ou a tirá-la depois do jantar?”. Quantas mais vezes conseguir apresentar opções quando dá ordens, mais provável será que o seu filho obedeça.

  7. Escolher a oportunidade – È fácil dar ordens às crianças sem ter em consideração o que se está a passar nas suas vidas em determinado momento. Quando se trata de razões de saúde e de segurança as crianças têm de obedecer às ordens imediatamente, contudo, muitas das nossas instruções não são emergências e podem ser dadas de modo mais respeitoso. É muito eficaz dar instruções quando as crianças não se encontram embrenhadas em mais nada. Quando se encontram a meio de alguma coisa, devemos respeitá-las e conceder-lhes algum tempo, em vez de nos lançarmos a elas com exigências. É tão simples como dizer: “Quando o programa acabar vai dar comer ao gato.”

  8. Encorajar – Sempre que a criança respeite a regra e apresente o comportamento desejado, diga-lhe o quanto está satisfeito com ela. Por exemplo, “Gosto que digas se faz favor e obrigado!”, “Obrigado por brincares tão bem com o teu irmão!”, “Se não fosse pela tua ajuda…"
Lembre-se que o carinho é essencial às crianças, mas não é o suficiente. Elas também precisam de estrutura e de orientação para conseguirem lidar com as exigências que lhes são apresentadas pela vida fora. Têm de aprender limites e padrões, a fim de se sentirem seguras e de poderem crescer de forma responsável.

domingo, 25 de novembro de 2007

Stress Infantil

Tradicionalmente pensava-se que o stress patológico (distress) acometia apenas os adultos, sobrecarregados com as solicitações da vida moderna. No entanto, o conceito de infância enquanto período de felicidade plena, sem responsabilidades nem “dores de cabeça” tem vindo a ser deitado por terra pelas investigações mais recentes e, hoje em dia é sabido que, tal como outras perturbações (por exemplo, a Depressão) as crianças também sofrem de stress.

Entre as causas diagnosticadas como fontes de stress infantil mais recorrentes encontramos os lutos/perdas familiares (morte, divórcio…); a mudança de escola ou residência; a violência doméstica ou a existência de conflitos entre os familiares mais próximos; o consumo de substâncias tóxicas ou alcoolismo nos pais ou prestadores de cuidados; a existência de exigências exageradas relativamente ao desempenho escolar; o nascimento de um irmão e as doenças e hospitalizações.

Normalmente esta perturbação tende a surgir no início da idade escolar (por volta dos 5,6 anos) e, embora se possa manifestar de forma diferente de criança para criança, existe um conjunto de sinais que nos permitem identificar algum nível de desconforto na criança. A nível comportamental, tendem a surgir manifestações como: pesadelos, ansiedade e medo excessivo, choro frequente, agressividade e desobediência, hiperactividade e instabilidade emocional. Estes sintomas são frequentemente acompanhados por alterações físicas como: Diarreias frequentes, enurese nocturna (fazer xixi na cama); dores de cabeça e/ou de barriga; tensão muscular; falta de apetite, tiques nervosos; roer as unhas e náuseas.


Tal como nos adultos, esta patologia tende a agravar outros quadros já existentes como alergias, asma, obesidade, etc. uma vez que o stress tem efeito directo sobre o sistema imunitário do individuo.

A criança que apresenta sintomas de perturbação de stress deverá ser avaliada pois, esta perturbação, para além do sofrimento que causa por si só, poderá estar aliada a outras complicações como a Depressão Infantil, baixa auto-estima e/ou perturbações de adaptação.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Hipocondria

A Hipocondria é uma perturbação que se caracteriza por uma extrema preocupação com a saúde, acompanhada de um forte receio de sofrer de uma doença grave. As pessoas que sofrem desta perturbação consultam muito frequentemente vários médicos e submetem-se a exames por vezes dolorosos mas, no entanto, não encontram conforto perante a ausência de um diagnóstico.

Apesar de ser encarada levemente pelo senso comum, a “mania das doenças”, como é muitas vezes apelidada, é um quadro clínico do espectro das perturbações de ansiedade, tão sério como qualquer outro diagnóstico e, afecta significativamente a vidas dos sujeitos que dela padecem.


Esta perturbação é tão frequente em homens como em mulheres e pode ser encontrada em pessoas de todas as idades e grupos sociais.Os sintomas são reais – dores de cabeça, náuseas, dores de barriga, tonturas, fadiga, etc. – mas são vivenciados como mais graves do que realmente são. O tipo de queixa pode ser estável ou variar ao longo do tempo e, tanto podem tratar-se de queixas vagas como específicas.

A Hipocondria tem tido, nos últimos anos, a Internet como grande aliada, sendo até já apelidada de Cibercondria, uma vez que os indivíduos com esta perturbação tendem a procurar em sites de medicina, doenças que se enquadrem nos seus sintomas.

O tratamento da Hipocondria requer um empenho activo, por parte do paciente, e pode ser demorado. No entanto, com um acompanhamento piscológico adequado, a pessoa torna-se capaz de identificar e reduzir a sua ansiedade e de ter uma sólida consciência corporal que lhe vai permitir distinguir uma sensação de mal-estar específico de uma doença grave. O primeiro, e mais importante, passo é a tomada de consciência da perturbação e a procura de auxílio.

Depressão na Adolescência

A adolescência é uma fase da vida pautada por ambiguidades e contradições. Existe uma grande mudança em relação ao mundo que o individuo conheceu enquanto criança: mudam as relações com os pais, com o grupo de pares, muda o corpo, mudam as vontades...

Acompanhando todas estas mudanças, encontramos sentimentos de angústia, de confusão e, muitas vezes, de incapacidade de decidir o que fazer relativamente ao futuro. Estes sentimentos tornam-se especialmente relevantes quando o adolescente está inserido num seio familiar que também está em crise (divórcio, violência doméstica, doença ou morte de um familiar, alcoolismo e outros consumos..).


A depressão neste período difere bastante da depressão do adulto, podendo, por exemplo, revelar-se através de comportamentos turbulentos e agitados. É, por vezes, difícil de identificar dadas as alterações frequentes do humor, que são características desta etapa da vida.

Mesmo assim, existe um conjunto de aspectos a que pais, professores e todos aqueles que lidam com adolescentes devem estar atentos e que, podendo não ser preocupantes quando surgem isoladamente e por um curto período de tempo, são indícios que o adolescente se encontra face a uma situação problemática, e que necessita de apoio.


- Sensação de cansaço inexplicado

- Pouca confiança em si próprio

- Sensação de insucesso, de não ser valorizado, de “não prestar para nada”

- Falta de perspectivas para o futuro

- Baixa auto-estima

- Dificuldades em conciliar o sono (insónias)

- Dores em localização diversa e, muitas vezes rotativas (cabeça, barriga, costas, pontadas no peito).

- Perda de apetite e consequente perda de peso, ou pelo contrário, aumento significativo do apetite e do peso, com dificuldade de controlo

- Quebra no rendimento escolar

- Dificuldades de concentração

- Comportamentos agressivos e violentos com passagens ao acto frequentes

- Pensamento lentificado

- Isolamento extremo

- Desinvestimento súbito na aparência física

O meu filho parece deprimido, como gerir a situação?

- Em primeiro lugar deve sempre procurar conversar com o(a) seu (sua) filho(a) e mostrar-se disponível para o ouvir. É importante salientar que para além da figura de pai/mãe, existe uma pessoa que também já viveu a adolescência e os seus problemas e que, está disposta a partilhar experiências de vida.

- Evite julgar ou aproveitar o que lhe é confiado, neste momento, pelo(a) adolescente para aplicar castigos, caso contrário, dificilmente voltará a confiar.


- Marque uma consulta com o seu médico assistente e/ou peça o agendamento de uma consulta de psicologia (centros de apoio ao adolescente, consulta de psicologia do centro de saúde ou hospital da área ou consulta privada).O profissional especializado nesta área fará um despiste inicial e poderá averiguar a gravidade da situação.
Originalmente publicado na página do Atitudes